Avançar para o conteúdo principal

Joni Brandão: “Não tive medo de ir à luta do que queria”

Esta era a Volta a Portugal do tudo ou nada para Joni Brandão. Depois do 2º lugar alcançado em 2015, o líder da Efapel partiu para a 78ª edição da prova rainha lusa com um objectivo: vencer a camisola amarela. Qualquer outro lugar no pódio ou na classificação geral seria mera consequência da luta que travou pelo 1º lugar e não conseguiu agarrar. Finalizar a Volta de 2016 em 5º da geral foi o epílogo possível de ser escrito, após os inúmeros ataques à amarela de Rui Vinhas (W52-FC Porto), a quem nunca conseguiu destronar por mais que desafiasse a sua liderança.

Joni Brandão (foto Helena Dias)

Embora não tenha alcançado o objectivo primordial ao qual se propôs, Joni Brandão [20/11/1989] protagonizou a mais marcante das suas presenças na Volta a Portugal pela atitude combativa demonstrada jornada após jornada.

Iniciou a Volta a pedalar o 2º melhor tempo no contra-relógio individual do prólogo, mas veria esse esforço totalmente deitado por terra pela vantagem de mais de 3 minutos obtida por Rui Vinhas no final da terceira etapa. Joni Brandão nunca deitou a toalha ao chão, desferindo ataques à liderança de Vinhas e acabando por mostrar, à semelhança da edição transacta, que é um dos melhores corredores do pelotão nacional. Nas mais duras montanhas da presente edição foi 3º na Sra. da Graça, 5º no dia da 1ª categoria de S. Macário e 7º na jornada de dupla passagem pelo alto da Torre, na qual empreendeu uma fuga solitária de cerca de 80 km, finalizando em Lisboa com o 6º melhor tempo no derradeiro contra-relógio individual.

No recente Circuito da Moita, Joni Brandão falou em exclusivo ao Cycling & Thoughts sobre o sabor agridoce desta Volta.

“Fiquei contente com o resultado que obtive. Naturalmente queria ganhar, trabalhei durante o ano todo para conseguir a vitória. Mas numa etapa o Rui Vinhas conseguiu ganhar uma vantagem confortável, para depois gerir nas outras e tendo uma equipa em que qualquer ciclista estava num excelente momento de forma. Tinham um bloco muito unido. Quanto a nós, fizemos o que tínhamos de fazer, que era atacar para conseguir encurtar distâncias. Não o conseguimos, mas conseguimos duas vitórias em etapas, algumas vitórias por equipas e eu consigo o 5º lugar na geral, o que também não é mau. Mas o ano passado tinha feito 2º e tinha prometido a mim mesmo que ou ganhava ou então não me interessava mais nada. Foi isso que tentei, ganhar e sair desta Volta com a consciência tranquila de que dei o meu melhor e fiz o melhor.”

“A partir da etapa em que o Rui Vinhas chegou fugido, tivemos de alterar a nossa táctica. Se tivesse chegado sempre tudo junto, íamos correr de maneira diferente e naturalmente eu ia estar na discussão. Por exemplo, a etapa da Sra. da Graça era uma etapa que eu queria vencer. Mas quando chegámos à Sra. da Graça, tive de ganhar tempo e atacar de longe. Já sabia que ou era a etapa ou era estar na discussão da Volta. Como queria vencer a Volta a Portugal, não podia estar a pensar na etapa, tinha de pensar em ganhar tempo e a nossa táctica teve de ser alterada a esse nível. Não foi possível, hei-de ter mais Voltas a Portugal pela frente e um dia certamente vou conseguir uma vitória de etapa.”

A equipa dirigida por Américo Silva começou a Volta com o 2º lugar de Joni Brandão no prólogo, subindo no dia seguinte ao comando da geral com Daniel Mestre, vencedor na chegada a Braga. Contudo, a equipa viu essa supremacia inicial terminar na terceira etapa, através de uma fuga que veio mudar por completo a história da Volta. O pelotão deixou o grupo em fuga obter uma larga vantagem, que deu a Rui Vinhas a liderança da Volta. Nesse dia e nos que se seguiram, a esquadra de Joni Brandão foi alvo de críticas por não ter assumido o comando da perseguição, quando era líder da geral, tendo essa crítica por base o argumento de não terem dado o devido valor ao potencial de Rui Vinhas poder vencer a Volta, já que o líder da W52-FC Porto era o bi-campeão Gustavo Veloso.

Joni Brandão refuta esse argumento e tece críticas à acção das demais equipas. “Não foi tirar o valor ao Rui Vinhas. Foi mesmo uma questão táctica, porque não só a Efapel queria ganhar a Volta, as outras equipas também. Penso que qualquer equipa que veio para a Volta a Portugal, das equipas portuguesas, tinha a ambição de vencer a Volta e nós decidimos que não íamos estar sempre a puxar, que não íamos andar o dia todo a trabalhar para os outros. Deixámos aquela fuga ganhar tempo a ver se as outras equipas estavam realmente interessadas em vencer a Volta ou não. Já nesse dia ficou demonstrado que as outras equipas estavam a lutar por um lugar no pódio e não por uma vitória na Volta. Nessa etapa, quando pegámos na corrida encurtámos uma distância muito grande [rondava os 10 minutos], porque senão a Volta estava entregue já nesse dia. Depois ainda ficou em aberto, mas temos de dar os parabéns ao Rui Vinhas de como se apresentou daí para a frente e parabéns à W52-FC Porto, porque soube gerir da melhor maneira.”

A Efapel fechou a Volta a Portugal em 3º por equipas, tendo na geral Joni Brandão em 5º, Henrique Casimiro em 7º e Daniel Mestre em 19º, vencedor de duas etapas.

A temporada de Joni Brandão acabou também por ser uma das melhores da sua carreira ao obter importantes vitórias em Portugal, conquistando o Grande Prémio do Dão e o Grande Prémio Internacional Beiras e Serra da Estrela, provas onde também arrecadou triunfos de etapas. A estas conquistas somou ainda um relevante pódio em Espanha, finalizando em 3º da geral a Vuelta a Castilla y León ganha por Alejandro Valverde (Movistar Team), com quem disputou a vitória da última etapa no Alto de Candelario, cruzando a linha em 2º a 1s de Valverde.

“Por essas vitórias, que tinha conseguido alcançar, e por ter estado na discussão da Vuelta a Castilla y León, cheguei à Volta sem tanta responsabilidade. Não estava a depender só da Volta para a época, como acontece com alguns ciclistas. Por isso mesmo, entreguei-me daquela maneira, não tive medo de atacar, não tive medo de ir à luta do que queria, porque não tinha de me estar a guardar. Ou era o que eu queria, que era tentar vencer a Volta, ou então não era mais nada.”

Com a temporada praticamente a fechar, Joni Brandão vê o seu contrato com a Efapel chegar ao fim. Manter esse laço, que dura há 4 anos, ou partir para um novo horizonte é uma questão que deixa em aberto.

“Já estive no estrangeiro [equipa Burgos BH em 2012], mas era muito novo. Acabei por não aproveitar muito bem a oportunidade. Neste momento, ainda não tenho equipa para o próximo ano. Estou à espera e temos sempre o sonho de conseguir dar o salto. Vamos ver se vai ser possível ou não. Se não for possível, as equipas em Portugal já evoluíram bastante e, neste momento, não estamos como há dois anos atrás. Penso que a vinda do Futebol Clube do Porto e do Sporting trouxe algo que era preciso a esta modalidade.”

Joni Brandão no Circuito da Malveira
(foto Helena Dias)
Joni Brandão no Circuito de Alcobaça
(foto Helena Dias)

Comentários

  1. Aqui temos mais uma entrevista como sempre muito bem conseguida. Durante todo o ano nota-se o esforço por dar sempre voz aos protagonistas desta maravilhosa modalidade.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Artigos Mais Lidos

Apresentação Liberty Seguros/Feira/KTM 2014

Esta quinta-feira, a Biblioteca Municipal de Sta. Maria da Feira recebeu a apresentação do 6º GP Liberty Seguros/Volta às Terras de Sta. Maria e das equipas de formação Liberty Seguros/Feira/KTM do Sport Ciclismo S. João de Ver. Entre as personalidades presentes destacaram-se os patrocinadores das equipas, nomeadamente a Liberty Seguros, a KTM e a Câmara Municipal de Sta. Maria da Feira. Também não faltaram antigos corredores da casa, actualmente a pedalar no pelotão profissional nacional, entre outros o campeão nacional Joni Brandão, César Fonte, Edgar Pinto, Frederico Figueiredo, Mário Costa, Rafael Silva e o internacional André Cardoso. Nem o campeão do mundo Rui Costa faltou à chamada de um dos directores desportivos mais acarinhados no país, Manuel Correia, deixando em vídeo uma mensagem sentida de agradecimento pelo seu percurso e aprendizagem no clube. Precisamente de Manuel Correia surgiu o momento mais marcante da cerimónia, aquando do seu anúncio de fim de ciclo

Entrevista a Isabel Fernandes: “África leva-nos a colocar em causa as nossas prioridades de Primeiro Mundo”

O ciclismo apareceu na vida profissional de Isabel Fernandes em 1987 para não mais sair. De comissária estagiária em 1989, chegou ao patamar de comissária internacional dez anos depois, realizando diversas funções na modalidade ao longo dos anos, nomeadamente intérprete e relações públicas de equipas, membro da APCP (Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais) e da organização de várias provas como os Campeonatos da Europa e do Mundo, em Lisboa.

Os velódromos de Portugal

Velódromo de Palhavã (© Arquivo Municipal de Lisboa) Em Portugal, o ciclismo já foi considerado o desporto da moda entre as elites. Para chegarmos a esse momento da história, temos de recuar ao tempo da monarquia, até finais do século XIX, para encontrar o primeiro velódromo em território nacional, o Velódromo do Clube de Caçadores do Porto , na Quinta de Salgueiros, não sendo a sua data totalmente precisa, já que a informação a seu respeito é muito escassa. Em alguns relatos, a sua inauguração data de 1883, enquanto noutros data de 1893.