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Opinião TJAgostinho: ciclistas e organização

Terminou mais uma edição do Grande Prémio Internacional de Torres Vedras – Troféu Joaquim Agostinho. Em 2016, vários foram os ciclistas que se destacaram no decorrer das quatro jornadas, desde os mais jovens aos mais experientes do pelotão nacional. Em termos de organização, há também factores a assinalar nesta 39ª edição.

NOMES A DESTACAR

Sem margem para dúvidas, Rafael Reis (W52-FC Porto) é um nome a reter esta temporada. O jovem corredor tem vindo a percorrer um caminho de vitórias e resultados assinaláveis em todas as provas disputadas ao longo deste ano. Especialista no contra-relógio, chegou ao Troféu Joaquim Agostinho e venceu o prólogo, superando-se a si mesmo em 24 segundos relativamente à marca alcançada no ano transacto, exactamente no mesmo percurso. Aos 23 anos, impôs a marca de melhor contra-relogista a correr no pelotão nacional, como demonstrou nos campeonatos nacionais, apenas batido por Nelson Oliveira (Movistar Team) e José Mendes (Bora-Argon 18). Para além dos atributos na sua especialidade, Rafael Reis soma este ano uma qualitativa melhoria no terreno montanhoso, o que o ajudou a vencer classificações gerais como o Grande Prémio JN. À semelhança das anteriores provas, no Troféu desempenhou ainda a função de apoio aos líderes, demonstrando que se está a tornar num ciclista mais completo. Foi o primeiro camisola amarela desta edição.

Rafael Reis venceu o prólogo e vestiu a primeira amarela

Novamente vencedor no alto de Montejunto, João Benta (Louletano-Hospital de Loulé) conseguiu ser feliz num local já seu conhecido. A vitória que buscava desde o início da temporada chegou no Troféu, que foi seu em 2015, protagonizando mais uma exibição de luxo nas duras rampas do Montejunto, não deixando nenhum dos adversários roubar-lhe a vitória. Na outra chegada em alto, foi 6º na Carvoeira e por pouco não repetiu o triunfo na geral, ficando em 4º a 26s da camisola amarela. Não se pense que a vitória andou longe de João Benta até ao momento da época, já que o ciclista de 29 anos soma até ao momento quatro Top 10 em provas nacionais.

João Benta venceu no alto de Montejunto

Vencedor de uma etapa, da camisola dos pontos e 3º da geral, Raúl Alarcón (W52-FC Porto) foi dos ciclistas mais regulares do Troféu Joaquim Agostinho. Nos quatro dias de prova esteve sempre entre os primeiros dez de cada jornada, seja em terreno plano ou montanhoso, incluindo um bom contra-relógio no qual gastou mais 27s do que o vencedor. Aos 30 anos de idade, afirma-se como um dos fortes elementos da esquadra azul e branca com cinco classificações secundárias e duas etapas ganhas esta temporada, para além dos diversos lugares cimeiros conquistados ao longo do ano.

Raúl Alarcón vence etapa em Torre Vedras, camisola dos pontos e 3º geral

Numa demonstração de força na chamada antessala da Volta a Portugal, Gustavo Veloso (W52-FC Porto) iniciou o Troféu superando no contra-relógio os contenders da Volta presentes na prova. Embora separado por escassos segundos, a balança pendeu para o lado do galego de 36 anos, que ainda alcançou a vitória da última etapa, recortando tempo na geral, onde finalizou em 7º lugar (+59").

Gustavo Veloso venceu no alto da Carvoeira

Vindo do WorldTour, o italiano de 38 anos Rinaldo Nocentini (Sporting CP-Tavira) criou muita expectativa em relação à sua presença no pelotão nacional. Apresentado pela equipa verde e branca como ‘cabeça de cartaz’ para a Volta a Portugal, teve um início de temporada discreto, aparecendo com mais força no Grande Prémio JN (CG 4º), uma prova marcadamente dura, e agora no Troféu Joaquim Agostinho. A vitória da geral resultou de um forte contra-relógio (3º) e da firmeza nas duas etapas com chegada em alto no Montejunto (2º) e na Carvoeira (7º). No derradeiro dia, mostrou a garra de leão defendendo-se nos últimos 50 km dos ataques dos principais adversários na geral e sem companheiros de equipa –que tinham trabalhado a seu lado até ao momento–. A forma como se bateu neste Troféu prestigiou a prova lusitana e deixou claro que o trajecto do WorldTour para uma equipa continental pode ser feito com bastante brio profissional. Defendeu a liderança da camisola amarela desde o final da primeira etapa em linha.

Rinaldo Nocentini conquistou a geral do Troféu

Partilhando equipa, Hernâni Brôco e Bruno Silva (LA Alumínios-Antarte), de 35 e 28 anos de idade, destacaram-se no Troféu ao finalizarem ambos no Top 10 da geral. O valor destes corredores é sobejamente conhecido. O primeiro já esteve no pelotão internacional ao serviço da Caja Rural em 2012, o segundo conta com uma carreira pedalada em equipas lusas sendo dos mais consistentes corredores no panorama nacional. Hernâni Brôco terminou 2º na geral, a 24s do vencedor italiano, tendo um forte desempenho nas etapas de chegada em alto (3º e 5º). Bruno Silva foi 5º na geral (+54”), finalizando nessas mesmas chegadas entre os dez primeiros.

Hernâni Brôco 3º no alto de Montejunto
Bruno Silva 9º no alto da Carvoeira

Entre os mais jovens presentes nesta edição, o destaque português recai em Marcelo Salvador (GoldWin-Team José Maria Nicolau). Aos 19 anos, neste que é o seu primeiro ano no escalão sub-23, o ciclista de equipa de clube conseguiu terminar o Troféu em 11º da juventude e 50º da geral. Os simples números escondem a realidade deste jovem ter chegado do pelotão júnior, com uma díspar realidade em termos de grau de competitividade e dureza das corridas, não só pela quilometragem como também pelo ritmo imposto pelos experientes ciclistas profissionais. Marcelo Salvador detém títulos nacionais de estrada e contra-relógio em cadetes e também a vitória da Volta a Portugal de Juniores 2015. Neste Troféu espelhou na sua performance uma boa evolução desde o início da temporada.

Marcelo Salvador no circuito em Torres Vedras, 11º da juventude


No que concerne à classificação da juventude, os colombianos arrasaram em toda a escala, ocupando as equipas Manzana Postobon e Boyacá Raza de Campeones oito dos dez primeiros lugares. Vencedor da camisola da juventude, Aldemar Reyes (Team Manzana Postobon), de 21 anos, assumiu desde o primeiro dia de competição o comando desta classificação, crescendo em performance ao longo dos dias até ao 3º lugar na meta da Carvoeira, garantindo o 10º lugar na classificação geral individual.

Aldemar Reyes conquistou a camisola da juventude desde o dia inaugural

ORGANIZAÇÃO

Desde 2012 a acompanhar in loco o Troféu Joaquim Agostinho, podemos constatar a permanente preocupação por manter viva a chama de uma prova mítica do calendário nacional por parte do organizador UDO – União Desportiva do Oeste. Para além da sua importância a nível desportivo, o Troféu é simultaneamente importante para a divulgação dos produtos e marcas da região oeste. Além disso, encerra em si mesmo a merecida homenagem anual por parte do pelotão ao carismático e saudoso Joaquim Agostinho.

A organização contou com os serviços de cronometragem da empresa Fullsport, que tem como rosto visível o chefe de equipa Rui Monteiro. Desde as classificações atempadas até aos mínimos detalhes no que toca à segurança nas chegadas, verifica-se um cuidado para que tudo esteja preparado sem atrasos e com a máxima segurança na colocação de barreiras de protecção aos ciclistas, existindo também a preocupação de prestar esclarecimentos no âmbito da prova aos responsáveis da comunicação social e ao público em geral. Nota ainda para o facto desta empresa portuguesa ter sido eleita para a cronometragem dos Campeonatos Nacionais de Espanha.


Como nota menos positiva, assinala-se a demora nas cerimónias do pódio e a ausência de algumas equipas de clube lusas, presentes em todas as demais provas do calendário nacional, nomeadamente três de relevância no panorama nacional –Maia, Liberty Seguros-Carglass e Moreira Congelados-Feira-Bicicletas Andrade–.

No fecho do 39º Troféu Joaquim Agostinho, percebemos que a melhor forma de homenagear um ciclista como Joaquim Agostinho é entregar-se de alma e coração como fizeram as equipas do pelotão, lusas e estrangeiras, lutando dia após dia com exibições de elevada qualidade e proporcionando belos espectáculos de ciclismo.

Pelotão deu espectáculo ao longo dos quatro dias de competição
Ciclistas homenagearam com excelentes performances o carismático
Joaquim Agostinho
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Comentários

  1. Concordo em absoluto com a visão inteligente e absolutamente imparcial que faz da prova. Estive pessoalmente durante os quatro dias nas quatro etapas e ao fim do dia vi o trabalho aqui feito sempre com exemplar proficionalismo e sobretudo dando aos seguidores a notícia na hora através do Twitter. Como fã da modalidade mais uma vez o meu agradecimento e muitos parabéns

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