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Joaquim Silva: “Um dia gostaria de correr o Giro d’Itália”

Joaquim Silva no Mirador de Ézaro
Joaquim Silva, jovem luso de 22 anos, viu nascer a paixão pelo ciclismo em criança. Aos 10 anos de idade, começou a escrever a sua história nesta modalidade nas escolas da Associação Desportiva Recreativa Ases Penafiel. Aí permaneceu de 2002 a 2010, fazendo toda a sua formação cadete e júnior. A passagem para sub-23, no ano de 2011, levou-o a mudar de ares para uma casa de maior responsabilidade - o Velo Clube do Centro, onde permanece até à presente temporada na equipa de clube Anicolor (ex Mortágua). Nesta esquadra tem ganho maturidade ciclística, levando-o a colher alguns frutos importantes para o palmarés, como a vitória do Troféu Luso-Galaico em 2014.

Esta é a 4ª temporada em Mortágua. Como têm sido estes anos sob o comando de Pedro Silva?
Têm sido anos de muita aprendizagem e evolução como ciclista e pessoa. O Sr. Pedro deu-me a oportunidade de ingressar nesta equipa no meu primeiro ano sub-23, numa altura em que andava meio perdido. A época já tinha arrancado e eu não tinha equipa. Estava num momento bastante difícil da minha vida quando os meus companheiros Carlos Ribeiro e Nuno Meireles, que já lá estavam, falaram de mim ao meu chefe e ele deu-me a oportunidade que eu precisava. Estou-lhe muito grato por todos estes anos em que acreditou em mim e por tudo aquilo que me tem ensinado, é muito bom ter uma pessoa como ele ao nosso lado.

Quais as características e qualidades que sentes teres progredido mais enquanto ciclista?
Penso que a nível mental tenho progredido num bom caminho, muitas vezes peco por não saber ler a corrida e por não ter a frieza necessária para algumas situações de corrida, mas já estive bem pior e esse é o ponto que tenho evoluído mais. Em termos físicos, acho que tenho evoluído bem. Com o passar dos anos tenho evoluído na montanha, que é o meu ponto forte, e sinto que fico mais forte de ano para ano nessa vertente.

Tens pautado o início do ano por uma crescente maturidade ciclística, com pódios no teu escalão em importantes corridas (GP Liberty e GP Abimota) e em duas das três provas da Taça. Satisfeito com os resultados ou ambicionavas mais?
Estou muito satisfeito com os meus resultados. Claro que num ou outro caso podia e devia ter sido melhor, mas as coisas nem sempre correm como queremos. Contudo, tenho de salientar que não consegui chegar a esses resultados sozinho, toda a equipa e staff estiveram do meu lado sempre que precisei e esses resultados pertencem a todo o trabalho dos meus companheiros. E, claro, o suporte da minha família -Pais e Irmão- que tem sido um grande apoio para mim durante estes anos.

A vitória chegou no Troféu Luso-Galaico, em Espanha. Jamais esquecerás esse triunfo no Mirador de Ézaro, não?
Foi uma vitória que esperava e lutava há algum tempo. Já não ganhava desde júnior e o ano passado tive alguns pódios, mas faltava sempre qualquer coisa para o 1º lugar surgir. Sabia que era uma prova que combinava com as minhas características e o trabalho estava feito. A equipa acreditou em mim e fez um excelente trabalho durante toda a etapa. Quando cheguei às primeiras rampas e o Rúben atacou, ficámos só três e eu senti que talvez fosse o meu dia, tinha pernas para isso e contra-ataquei. Quando vi que não trazia ninguém na roda e a meta estava mesmo ali… foi de arrepiar! E já não houve dor de pernas nos últimos metros, só um grito de satisfação. Simplesmente, um dia muito bom para recordar para sempre, ainda mais numa chegada da Vuelta 2012 ganha pelo Joaquim Rodríguez. Foi um orgulho conseguir ganhar.

Esse Troféu é direccionado ao teu escalão, mas em Portugal os sub-23 correm com os profissionais. Na tua opinião, o calendário único para equipas de clube e continentais é um factor de aprendizagem ou preferias um calendário próprio para o escalão?
Por um lado, tendo em vista quem sobe do escalão júnior, é muito difícil para eles a adaptação, porque a diferença de ritmo e quilómetros é enorme. Logo, um calendário apenas para equipas de clube era o mais adequado. Em contrapartida, penso que correr contra os profissionais se torna um motivo de orgulho e de evolução, pois estamos a correr contra aqueles ciclistas que discutem a Volta a Portugal, aqueles que víamos na televisão e sonhávamos um dia ser como eles. O grande problema disto é que as equipas de clube têm mais dificuldade para se manterem na estrada, porque correr com os profissionais tira o protagonismo nos meios de comunicação e torna-se mais difícil obter resultados de realce, que apareçam nas páginas de jornais para podermos mostrar os nossos patrocinadores. São eles que investem para as equipas poderem estar na estrada e isso é mau. Acho que tem os seus contras, mas também tem os seus benefícios.

Seguem-se as duas últimas provas da Taça e os Campeonatos Nacionais. Com que expectativas partes para estas provas?
O objectivo para este fim-de-semana é manter o pódio na geral da Taça Sub-23, fazendo o melhor possível nos dois dias. Temos ciclistas no 2º, 3º e 4º lugares. É claro que a diferença de pontos para o Rúben Guerreiro é alguma, mas não nos podemos entregar sem dar luta. Quanto aos Campeonatos Nacionais, acho que toda a gente vai para a linha de partida com o pensamento de vestir a camisola com o símbolo nacional e eu não sou excepção, mas não penso muito nisso. É sempre uma corrida muito aberta. Além de ser preciso estar bem fisicamente, é preciso sorte e saber o momento certo. Também não conhecemos muito do percurso deste ano, que é novo. Portanto, não sei se é um percurso que me pode favorecer a mim ou a qualquer companheiro da minha equipa.

Relativamente aos objectivos para a temporada, qual a tua maior meta?
Gostaria de representar a Selecção Nacional em alguma prova este ano, claro. Mas o grande objectivo é a Volta a Portugal do Futuro. Talvez um Top 5 esteja na minha ideia, visto que vai ser uma prova com mais nível que os outros anos, com a presença de algumas equipas estrangeiras. Penso que era um bom resultado para mim.

E quanto ao futuro, que sonhos gostarias de cumprir?
Sempre digo isto quando me fazem essa pergunta, primeiro de tudo é chegar a profissional e fazer uma Volta a Portugal. São aqueles objectivos e sonhos que sempre tive desde que me lembro de andar de bicicleta. Sonhando mais alto, bem mais alto, um dia gostaria de correr o Giro d’Itália, porque sempre foi a prova que mais gostei de ver e sonhava fazer.

Joaquim Silva, vencedor da Juventude GP Abimota

Fotos: Facebook Joaquim Silva e Grande Prémio Abimota
(escrito em português de acordo com a antiga ortografia)

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