Avançar para o conteúdo principal

A magia da 75ª Volta a Portugal

O pelotão da 75ª Volta a Portugal proporcionou um verdadeiro espectáculo de ciclismo nas Bodas de Diamante. Será que Joaquim Gomes, Director da prova, quando desenhou o traçado das etapas sabia que esta seria uma das melhores edições de sempre? E uma das mais renhidas dos últimos anos...


Do estrangeiro vieram onze equipas e umas destacaram-se mais na estrada do que outras. A holandesa Rijke-Shanks deu o tiro de partida à prova e ao primeiro pódio, vencendo o contra-relógio por equipas. Esteve dois dias de Amarelo, como a IAM Cycling pelas pedaladas de Marcel Wyss, que este ano já tinha ganho a clássica Berner Rundfahrt e foi 10º no Tour de Romandie. A Continental Team Astana destacou-se pela Camisola Branca da juventude conquistada por Vladislav Gorbunov e, inesquecível, pelo episódio insólito protagonizado por Abdraimzhan Ishanov, que não querendo continuar na fuga em solitário decidiu esperar pelo pelotão à sombra de um viaduto, aproveitando os vastos minutos para se alimentar tranquilamente na 1ª etapa.

A MTN-Qhubeka chegou com o grande vencedor da Milano-Sanremo Gerald Ciolek a prometer espectáculo nos sprints, mas foi com o espanhol Sergio Pardilla que mais brilhou ao vencer na mítica Sra. da Graça e luzindo quatro dias de Camisola Amarela. A Caja Rural-Seguros RGA, a par com a equipa sul-africana, tomou muitas vezes o comando do pelotão para terminar com o sonho das fugas e a espanhola com o objectivo de levar o luso Manuel Cardoso à sua primeira vitória da temporada, que conseguiu tal como a conquista da Camisola Vermelha dos pontos.

Quanto às seis equipas lusas, a OFM-Quinta da Lixa foi a mais vitoriosa, não só por conquistar a Camisola Amarela com Alejandro Marque, mas também por vencer três etapas com os seus três principais corredores. Marque fulminou no contra-relógio e subiu ao primeiro lugar da geral, mas antes já tinha sorrido na meta Gustavo Veloso (2º na geral) na dura escalada ao Alto da Torre e Delio Fernández no sprint em Fafe, que não festejou por ter sido diante do companheiro que viria a vencer a Volta. Feliz estreia da equipa na categoria continental!

Também a Efapel-Glassdrive esteve em foco nas etapas mais duras. Rui Sousa sonhava com a Amarela e tudo fez para conquistá-la. Venceu uma etapa de significado importante por ser na sua terra, Viana do Castelo, e esteve sempre a par no tempo igual a Sergio Pardilla, pronto para o assalto à sua liderança, que acabaria por lograr à 8ª etapa, mas perder no dia seguinte. Desta equipa, destaque ainda para o Campeão Nacional Joni Brandão, que mostrou estar disposto a vencer etapas, como poderia ter acontecido à 2ª, não fosse a sua própria equipa ter anulado a fuga onde estava e tão perto de alcançar o risco da vitória. Ainda assim, foi o homem incansável das fugas e de trabalho para os seus companheiros. A equipa terminou esta edição como a melhor no colectivo e Rui Sousa melhor corredor português, no 3º lugar do pódio.

A LA Alumínios-Antarte viu a geral perdida de Hugo Sabido, mas não se rendeu e à 5ª etapa colocou 7 homens na frente da corrida, dando muito trabalho ao pelotão para anular a fuga onde os homens de laranja faziam de tudo para voltar à luta principal. Um autêntico despique fuga versus pelotão! Não conseguiram, mas tiveram em Márcio Barbosa a recompensa de ser o melhor trepador. O temor das montanhas fez da Camisola Azul uma ‘brincadeira de crianças’ e, entrando nas fugas acertadas, pontuou nos cumes que lhe permitiram a vitória final, mas não sei antes dar espectáculo com outro luso, Hélder Oliveira (OFM-Quinta da Lixa), que apenas não continuou com esta ‘guerra’ por uma gastroenterite ser mais forte que as montanhas da Volta a Portugal. Da equipa laranja destaque também para Edgar Pinto, não fosse o furo no prólogo e a perda irrecuperável de tempo, poderia ter discutido os lugares do pódio, mas a conquista do 4º lugar ninguém lhe tira, além das grandes exibições na Sra. da Graça (2º) e na Torre (4º).

A Rádio Popular-Onda teve uma vez mais em Daniel Silva o seu homem forte e não fosse também um furo, desta feita no contra-relógio final, poderia ter conseguido uma posição ainda melhor no Top 10, onde terminou em 6º lugar. O Louletano-Dunas Douradas foi a única equipa a ter êxito numa fuga pelas pedaladas de Raúl Alarcón, a primeira vitória da temporada do espanhol, esquadra que teve o seu melhor resultado na geral com Rui Vinhas em 15º. A histórica equipa de Tavira, agora denominada Banco BIC-Carmim, lutou na estrada, mas com poucas realizações. Um grupo em formação, que teve ainda de lidar com problemas de saúde de vários corredores. Ainda assim, teve em Henrique Casimiro o seu melhor homem, a terminar em 23º num total de 131 corredores que finalizaram a prova.

Por falar em final de prova, o ‘lanterna vermelha’ desta Volta foi o italiano Filippo Baggio (Ceramica Flaminia-Fondriest).

A crónica já vai longa... nada melhor do que terminar referindo os dois corredores lusos mais jovens do pelotão, que se afirmaram nesta edição. Aos 22 anos, Rafael Silva (LA Alumínios-Antarte), vencedor da Volta a Portugal do Futuro em 2012, terminou em 20º lugar e Nuno Bico (Rádio Popular-Onda), com apenas 19 anos, finalizou a sua primeira Volta a Portugal na 38ª posição.

Vencedores das jornadas:
Prólogo – De Rijke-Shanks 
1 Etapa – Alexander Serov (Rus) Rusvelo
2 Etapa – Rui Sousa (Por) Efapel-Glassdrive
3 Etapa – Delio Fernández (Esp) OFM-Quinta da Lixa
4 Etapa – Sergio Pardilla (Esp) MTN-Qhubeka
5 Etapa – Manuel Cardoso (Por) Caja Rural-Seguros RGA
6 Etapa – Maxime Daniel (Fra) Sojasun
7 Etapa – Raúl Alarcón (Esp) Louletano-Dunas Douradas
8 Etapa – Gustavo Veloso (Esp) OFM-Quinta da Lixa
9 Etapa – Alejandro Marque (Esp) OFM-Quinta da Lixa
10 Etapa – Jacob Keough (USA) UnitedHealthcare

Vestiram a Camisola Amarela:
Prólogo – Christoph Pfingsten (Ger) Rijke-Shanks
1 Etapa – Christoph Pfingsten (Ger) Rijke-Shanks
2 Etapa – Marcel Wyss (Sui) IAM Cycling
3 Etapa – Marcel Wyss (Sui) IAM Cycling
4 Etapa – Sergio Pardilla (Esp) MTN-Qhubeka
5 Etapa – Sergio Pardilla (Esp) MTN-Qhubeka
6 Etapa – Sergio Pardilla (Esp) MTN-Qhubeka
7 Etapa – Sergio Pardilla (Esp) MTN-Qhubeka
8 Etapa – Rui Sousa (Por) Efapel-Glassdrive
9 Etapa – Alejandro Marque (Esp) OFM-Quinta da Lixa
10 Etapa – Alejandro Marque (Esp) OFM-Quinta da Lixa 

Camisola Amarela: Alejandro Marque (Esp) OFM-Quinta da Lixa
Camisola Vermelha Pontos: Manuel Cardoso (Por) Caja Rural-Seguros RGA
Camisola Azul Montanha: Márcio Barbosa (Por) LA Alumínios-Antarte
Camisola Branca Juventude: Vladislav Gorbunov (Kaz) Continental Team Astana
Melhor Equipa: Efapel-Glassdrive (Por)
Melhor Português: Rui Sousa (Por) Efapel-Glassdrive

Classificação Geral: 
1 Alejandro Marque (Esp) OFM-Quinta da Lixa 43:02:20 
2 Gustavo Veloso (Esp) OFM-Quinta da Lixa 0:00:04
3 Rui Sousa (Por) Efapel-Glassdrive 0:00:50
4 Edgar Pinto (Por) LA Alumínios-Antarte 0:02:44
5 Hernâni Brôco (Por) Efapel-Glassdrive 0:02:57
6 Daniel Silva (Por) Rádio Popular-Onda 0:02:59
7 Marcel Wyss (Sui) IAM Cycling 0:03:14
8 Virgílio Santos (Por) Rádio Popular-Onda 0:05:23
9 Nuno Ribeiro (Por) Efapel-Glassdrive 0:06:49
10 Célio Sousa (Por) Rádio Popular-Onda 0:07:49
Fotos do Prólogo por Helena Dias, aqui.

Comentários

Artigos Mais Lidos

Apresentação Liberty Seguros/Feira/KTM 2014

Esta quinta-feira, a Biblioteca Municipal de Sta. Maria da Feira recebeu a apresentação do 6º GP Liberty Seguros/Volta às Terras de Sta. Maria e das equipas de formação Liberty Seguros/Feira/KTM do Sport Ciclismo S. João de Ver. Entre as personalidades presentes destacaram-se os patrocinadores das equipas, nomeadamente a Liberty Seguros, a KTM e a Câmara Municipal de Sta. Maria da Feira. Também não faltaram antigos corredores da casa, actualmente a pedalar no pelotão profissional nacional, entre outros o campeão nacional Joni Brandão, César Fonte, Edgar Pinto, Frederico Figueiredo, Mário Costa, Rafael Silva e o internacional André Cardoso. Nem o campeão do mundo Rui Costa faltou à chamada de um dos directores desportivos mais acarinhados no país, Manuel Correia, deixando em vídeo uma mensagem sentida de agradecimento pelo seu percurso e aprendizagem no clube. Precisamente de Manuel Correia surgiu o momento mais marcante da cerimónia, aquando do seu anúncio de fim de ciclo

Os velódromos de Portugal

Velódromo de Palhavã (© Arquivo Municipal de Lisboa) Em Portugal, o ciclismo já foi considerado o desporto da moda entre as elites. Para chegarmos a esse momento da história, temos de recuar ao tempo da monarquia, até finais do século XIX, para encontrar o primeiro velódromo em território nacional, o Velódromo do Clube de Caçadores do Porto , na Quinta de Salgueiros, não sendo a sua data totalmente precisa, já que a informação a seu respeito é muito escassa. Em alguns relatos, a sua inauguração data de 1883, enquanto noutros data de 1893.

Entrevista a Isabel Fernandes: “África leva-nos a colocar em causa as nossas prioridades de Primeiro Mundo”

O ciclismo apareceu na vida profissional de Isabel Fernandes em 1987 para não mais sair. De comissária estagiária em 1989, chegou ao patamar de comissária internacional dez anos depois, realizando diversas funções na modalidade ao longo dos anos, nomeadamente intérprete e relações públicas de equipas, membro da APCP (Associação Portuguesa de Ciclistas Profissionais) e da organização de várias provas como os Campeonatos da Europa e do Mundo, em Lisboa.